Foi ao notar o velho guarda-roupa aberto, ao lado de
minha cama, que vi que não gosto de ter, aquilo que é exclusivamente meu,
aberto para qualquer um. Por isso, não esqueço, antes de tudo, de deslizar a
porta do armário, porque, metaforicamente, eu sou ele e ele sou eu. Não sei se
você conseguirá compreender a grandiosidade e a magnitude da epifania que agora
acabou de me ocorrer. Talvez, você apenas entenda que essa divagação sobre o
guarda-roupa, nada mais é que loucura e aquelas velhas história para boi
dormir. Mas pense comigo, leitor a quem tanto estimo, eu não gosto de mostrar
minhas roupas a qualquer um, minha desorganização e aquela bagunça que todos
temos dentro de nós. Seu coração, você queira ou não, é um grande guarda-roupa,
você decide aquilo que vai colocar, ou as peças de roupa que vai tirar. E antes
de tudo, ninguém pode te obrigar a arrumar seu armário. Somos sempre nós que
chegamos à conclusão que agora é hora de dobrar as roupas jogadas, tirar as
peças sujas e fazer uma grande limpeza. Sempre é bom ter alguém que te ajude,
mas lembre-se, e ouça esse conselho, que tanto demorei a compreender, não se esqueça,
que depois de arrumar tudo aquilo que está desarrumado, de fechar a porta.
domingo, 19 de janeiro de 2014
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
Pequena história de um relógio de areia
Era naquele quarto, com as janelas fechadas, enoitecido
pela cortina grossa e pesada. Tinha um clima abafado naquele cenário. Era
pesado, palpável e se você se concentrasse bem, poderia ver um véu invisível
que cobria cada centímetro do quarto. E tinha também uma cama.
Jazia sobre a cama um moribundo. Ah, um jovem
moribundo, agonizando com o aproximar do fim. Ao lado dele, uma ampulheta.
Nela, os grânulos de areia coloridas iam se derramando. Paulatinamente.
Gradativamente. Assustadoramente.
Sua areia caia constantemente, mas de forma
calma, sem pressa. O fim era inevitável, mas inevitável não quer dizer rápido.
Era preciso viver o momento. Viver aquilo que o corroia e aniquilava cada
célula do seu corpo, mas era preciso.
Um grão.
Uma respiração.
Um grão.
Uma respiração.
E passava o tempo, e passava o jovem também.
Era necessário que ele passasse e deixasse o tempo passar. A agonia já havia
tomado presença, mas não era mais o que lhe incomodava. Já nem a sentia. Ele
era ausência pura. Seu coração era indiferença. Essa era a pior morte que
poderia ter: a carestia de emoção.
E era hora. E a hora finda. Um ultimo minuto,
um ultimo grão. Aguentava porque logo ia passar. Uma ultima respiração e o
ultimo suspiro, uma ultima lembrança e adeus. O vento sussurrava à
distância ”Eu te amo, eu te amo, não vá” e era tarde demais.
quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
Crônica do amor encetado
Já era normal que aquele aluno divagasse
durante aquela aula daquela professora. Não havia jeito. Embora amasse o
Direito e era convicto que aquela era sua vocação, as aulas de história do
direito eram estritamente monótonas.
Os
alunos também não ajudavam em muito. Em sua maioria, eram chatos. Sem
parcimônia alguma, esta era a palavra a ser usada: chatos. Ora não prestavam
atenção na aula – mas também, como poderiam? – ora, quando muito participavam,
eram frases desconexas ou perguntas sem sentidos e, por esses e outros motivos,
há muito o aluno já desistira de dar sua atenção para a aula.
Deste
modo, naquela aula, ele se dedicava a unicamente reviver os bons momentos que
vivera com a antiga namorada, mesmo que já fosse tempo de superá-la. Não
queria. Era bom reviver aquilo que ele tanto amou viver e aquele buraco no seu
peito já fazia parte de quem ele era e a ele já estava acostumado.
E
assim rememorava aquele beijo fatídico, letárgico e modorrento que trouxera à época
tamanha fortuna. Foi numa festa, ele se lembrava. E se lembrava com mais acerto
ainda que já tivesse desistido dela. Mas, aparentemente, ela queria que o
menino – porque na época era apenas um garoto mesmo, tinha 15 anos –
continuasse a criar expectativas por ela. Mas aquela festa não fora como as
tantas outras que já tinha participado, não senhor. Ela decidira se despedir
dele de uma forma especial e que o garoto esperava sabe-se lá há quanto tempo.
E
a realidade era pautada nisso: eles haviam se beijado e beijo inflamado e as
flamas viraram labaredas que se apagaram logo em seguida, mas não antes que o
peito do garoto fosse rasgado.
Mas
agora, nesse desvario que vivia, podia transcender o apogeu de seu cortejo. Não
era mais necessário reviver aquilo. Podia apenas despedir-se dela de uma forma
cordial e amigável como sempre fizeram. E assim foi que ele fez. E a dor
passou. Estava leve, feliz e aquela sensação era incomparável. Fechou os olhos
e se deixou levar por aquela sensação de bem estar, porque a tantos tempos não
se sentia daquela maneira.
Abriu
os olhos. A voz da professora continuava monótona e seus colegas de classe
seguiam no mesmo fastio enfadonho, e a dor no peito do garoto continuava lá,
constante, mas ainda assim, reconfortante por saber que tudo aquilo que doía foi
real.
quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
Crônica de um jovem escritor
Era um nó na garganta do menino – isso mesmo, menino, ainda não era adulto – debruçado em sua cama, sem conseguir dormir, sem pregar os olhos. Tinha seu pensamento avoado, naquilo que lhe afligia, mas não era nada, porque se fosse já teria feito algo em seu favor Era tudo e tudo o que ele pensava era em rasgar o universo e pular nesse buraco, que tudo engolia, que tirava toda a angústia e tiraria esse nó que o impedia de gritar, que impedia o oxigênio de invadir suas vias respiratórias e aliviar aquela dor. Era esta vinda de não sei o que e, acima de tudo, não queria enfrenta-la. Não havia necessidade, não era preciso lutar com o inevitável, mas as vezes, este era, simplesmente, indefinível. Era preciso. Se não fosse assim, que seria, pois? Não seria, era isso e ponto final, feliz, feliz, não não. Desculpe-me, caso você não entenda, eu coso para dentro, não para fora, não é assim o certo? O garoto abrira o buraco da dor, com a arma de tinta e o escudo do papel, eu presumo. Nada de mais, era ele quem estava se pondo no papel, era sua vida, toda posta em letra-a-letra, e não parava de escrever, até que, sem que perceba, porque quem fazia o trabalho duro ali era a própria caneta, esta para e repousa no papel. Ele deita em sua cama, se cobre e dorme. Estava livre do nó. Desatara. Desatinara. Desamarrara. Desamara. Amara e só.
É tempo de um novo tempo, já que todo tempo é tempo para o renovo. Assim como na vida da gente acontece coisas novas, aqui no blog também. Há tempos já perdi a esperança de que alguém leia aqui, mas ainda assim, é aconchegante saber que existe um lugar para as pessoas lerem, ou supostamente isto fazer, aquilo que você desatinou a escrever. Assim, da mesma forma que eu cresci desde que criei esse local para publicações esporádicas, que eu carinhosamente chamo de Sons Profundos, o blog também cresceu, minha forma de escrever melhorou assim esperamos e a minha vontade de digitar aumentou, também. Desa forma, nasce aqui uma nova faceta do Sons Profundos. Ainda com seus textos tradicionais, mas também com pequenas crônicas do dia-a-dia que eu vez por outra rabisco por aqui. Espero que, bem como me agrada escrevê-las, que vocês sintam-se felizes por ler aquilo que me faz refletir. Abraços, gente, até a próxima.
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