quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Crônica do amor encetado

Já era normal que aquele aluno divagasse durante aquela aula daquela professora. Não havia jeito. Embora amasse o Direito e era convicto que aquela era sua vocação, as aulas de história do direito eram estritamente monótonas.
            Os alunos também não ajudavam em muito. Em sua maioria, eram chatos. Sem parcimônia alguma, esta era a palavra a ser usada: chatos. Ora não prestavam atenção na aula – mas também, como poderiam? – ora, quando muito participavam, eram frases desconexas ou perguntas sem sentidos e, por esses e outros motivos, há muito o aluno já desistira de dar sua atenção para a aula.
            Deste modo, naquela aula, ele se dedicava a unicamente reviver os bons momentos que vivera com a antiga namorada, mesmo que já fosse tempo de superá-la. Não queria. Era bom reviver aquilo que ele tanto amou viver e aquele buraco no seu peito já fazia parte de quem ele era e a ele já estava acostumado.
            E assim rememorava aquele beijo fatídico, letárgico e modorrento que trouxera à época tamanha fortuna. Foi numa festa, ele se lembrava. E se lembrava com mais acerto ainda que já tivesse desistido dela. Mas, aparentemente, ela queria que o menino – porque na época era apenas um garoto mesmo, tinha 15 anos – continuasse a criar expectativas por ela. Mas aquela festa não fora como as tantas outras que já tinha participado, não senhor. Ela decidira se despedir dele de uma forma especial e que o garoto esperava sabe-se lá há quanto tempo.
            E a realidade era pautada nisso: eles haviam se beijado e beijo inflamado e as flamas viraram labaredas que se apagaram logo em seguida, mas não antes que o peito do garoto fosse rasgado.
            Mas agora, nesse desvario que vivia, podia transcender o apogeu de seu cortejo. Não era mais necessário reviver aquilo. Podia apenas despedir-se dela de uma forma cordial e amigável como sempre fizeram. E assim foi que ele fez. E a dor passou. Estava leve, feliz e aquela sensação era incomparável. Fechou os olhos e se deixou levar por aquela sensação de bem estar, porque a tantos tempos não se sentia daquela maneira.

            Abriu os olhos. A voz da professora continuava monótona e seus colegas de classe seguiam no mesmo fastio enfadonho, e a dor no peito do garoto continuava lá, constante, mas ainda assim, reconfortante por saber que tudo aquilo que doía foi real. 

Um comentário: